segunda-feira, 26 de março de 2012

Repare no outono. Repare como é uma estação onde várias transformações acontecem.  É uma transição do verão, quente, ensolarado, chuvoso para o (na minha opinião)triste inverno. No Hemisfério Norte, o outono tem início no dia 23 de setembro e termina no dia 22 de dezembro; no Hemisfério Sul, se inicia no dia 20 de março e termina no dia 20 de junho. Ou seja, aqui no Brasil, estamos começando o outono.
Assim, desconsiderando as alterações climáticas que o mundo todo experimentada, sabe-se que no outono a chuva cessa, as folhas amarelam e até caem. Mas em compensação existem as frutas, plantadas no verão ou até mesmo na primavera, que já maduraram e no outono nos enchem os olhos e aguçam o paladar. AS temperaturas também ficam mais amenas, passam aquelas temperaturas sufocantes do verão, quando dá vontade de chorar de tão quente.
Gosto de Pablo Neruda, de tudo o que ele escreveu. Mas um poema, em especial me chama atenção.
“Quero apenas cinco coisas:
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando...”

Interessante é observar que parece que ele sabia que tinha de passar pelo outono para chegar até o olhar da pessoa amada. Ele abriria mão até da primavera ( eu não abriria não!), mas não abriria mão do outono...

outono tem seu encanto, claro. Mas confesso que não gosto das noites mais longas. Eu gosto do dia, de acordar cedo, de aproveitá-lo bem, poder ver as coisas, de identificá-las. Mas noites longas podem ser convidativas a um descanso maior também. A gente precisa descansar, mas nem sempre sabe disso...

 Eu não gosto do céu nublado, porque eu preciso do sol pra ser feliz, da luminosidade. Mas os primeiros dias do outono têm apresentado um verdadeiro espetáculo no céu. No fim da tarde, ele está vermelho, parece que queima, ao mesmo tempo que contrasta com o restinho do céu azul e pra completar essa maravilha toda, ainda percebe-se uma estrelinha bem atrevida no contexto.

Enfim, o outono me ensina. Me ensina que existe o tempo certo de colher os frutos. Plantamos em épocas propícias, e colhemos no devido tempo. E se a gente planta maçã, a gente colhe maçã. Não tem como ser diferente. Parece óbvio? Então porque nos esquecemos que todos os nossos atos têm conseqüência e que vamos colher exatamente o que plantamos...?! Vai dizer que não é assim...?!O outono é tempo de pensar em que estamos plantando...

O outono também me diz a respeito da resiliência,de recuar estratégicamente, de lutar com bravura, de se superar sempre e de nunca perder a brandura, a meiguice, a alegria. Afinal, a beleza está nos olhos de quem vê...Assim, as árvores, no outono, me ensinam isso... que as folhas podem amarelar e deixar a árvore completamente nua, mas no chão, pode se formar um lindo tapete. Há quem só veja sujeira, mas eu vejo beleza.

Mário Quintana também um dia perguntou-se: “Uma borboleta amarela? Ou uma folha seca Que se desprendeu e não quis pousar?” Por mais rebelde e encantadora  que pareça o folhinha, eu ainda prefiro ser a borboleta: essa sim é livre de verdade...


Outra lição: nunca subestimar nada, nem ninguém. As aparências não definem nada. Assim, o outono também me ensina que aquilo que tem aparência de morto, de ausência de vida, na verdade está apenas economizando as energias para atravessar o inverno, o denso e triste inverno. A árvore parece seca, mas não está. A seiva da vida pode estar escondida dentro dela, mas o fato é que o interior pode nos guardar grande surpresas...

O calor do verão parece insuportável? No outono isso passa...aquele sufocamento vai dando lugar a uma brisa suave que se experimenta principalmente no começo e no fim do dia.  Temperaturas amenas...sim, elas existem. Só quem sofre com o calor e/ou com o frio intensos sabe o quando termômetros marcando índices amenos podem ser um verdadeiro refrigério. A gente consegue respirar, recobrar o fôlego...

O outono também me ensina que a chuva passa, as tempestades passam...um dia a gente enxerga o céu...e também o próprio céu se apresenta de uma forma diferente, nova, colorida, parece que até grita! Mas então no inverno, ele se cala...

Como esquecer o céu de maio? como não reparar nessa riqueza de cores, sabores, brisas...? Como não ver beleza em tanta formosura, noites longas, tardes amenas...?A gente pode até interpretar o outono, mas cada um vive à sua maneira. Não quero passar tão rápido por ele. Afinal, penso ser bem mais triste e penosa a próxima estação...O fato é que , sim, nós vamos nos alegrar no verão, nós vamos nos encantar com a primavera, mas antes disso, o outono vai nos preparar para o inverno...

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