Lucas do Rio Verde, 08 de janeiro de 2009.
Eu sei que bem poucos vão ler isso...talvez importe pra bem pouca gente e só faça sentido aos Busanello...
Mais um ano começou..ano de mtas decisões será este.Acho q nem consigo medir direito os desafios q se apesentarão neste ano. Sei que de tudo pode se descortinar nesse palco onde minha vida é um grande espetáculo.
Chegue ontem em LRV pra minha última escala de férias de começo de ano. O que será que estare fazendo, o que será que será a Daniela nem 08 de janeiro de 2010? Quem estará perto, quem se terá ido, o q será q guardei, q ganhei, q perdi, q se foi? O que será q deu certo, o q será q deu errado? Bom...são perguntas que não poderão ser respondidas tão cedo.
Enfim...na viagem vim pensando que, há um ano atrás as coisas estavam bem diferentes. Eu saí de Dourados mto triste pra minha escala em Sinop. Tava difícil de me acertar lá em casa, e eu vim chorando mto, mas mto mesmo. Só depois de mto tempo é que eu me dei conta de que, principalmente por conta disso, eu já havia chegado deprimida em Anápolis. Mas dessa vez foi diferente. É bem verdade que os desentendimentos aconteceram, mas às vezes penso que isso é mta vontade de se entender, sem encontrar o caminho. Mas eu disse pra minha mãe q eu a amava, q ela era importante pra mim e que eu sabia q ela estava se esforçando pra eu ir pro Sul. Ela me disse q não percebia q me magoava tanto. Às vezes é mto difícil pensar q ela não me aceita como eu sou. Me desprendi da opinião de mtas pessoas. Da opinião dela ainda não. Mas tbém, nesta viagem, confirmei mais uma vez q somos mto parecidas, em mtas inseguranças, em alguns complexos, talvez até mesmo na teimosia. Mtas, mtas coisas. Observando as mulheres da família, e até os homens, descobri q eu não sou nada diferente deles. Me vi na persistência e resiliência das tias, no bom humor escrachado do tio Busa, no ponto final q se põe depois de mta dor, nas decisões que são tomadas e julgadas por radicais mais por nós, essenciais, na tolerância que só Deus sabe de onde vem, no riso, no choro, na alegria de estar todos juntos, no sorriso dos primos que é o mesmo, na emoção q rompe o choro qdo a alegria é gde, nos princípios morais firmemente estabelecidos, nos erros...na família grande e imperfeita...em tudo, em tudo q gosto ou não. Faço parte deles, sou eles. Nem mais nem menos.
Foram momentos regados a muitas lembranças, boas ou não, algumas desej´vies, outras nem tanto. Que vida complexa essa q eu tenho. Rir e chorar faz parte da minha história, o q só me faz lembrar q sou um ser humano como qquer outra. Foram momentos embalados por mtas risadas, falando mta bobagem, caminhando com as tias em Erexim ou Santo Ângelo, fotos antigas de acervos pessoais, detalhes inclusive escondidos por anos que, por um grato acaso me revelaram a humanidade errônea, intolerante, invejosa, maldosa, que, felizmente, existe também na minha família, ou seja, estou dentro dos padrões humanos, porque assim eu sou, pq assim eles são, todos somos.
Mtos passeios deliciosos, comidas deliciosas ( e dois quilos a mais), caminhadas no final da tarde. Foram tmas risadas e um pouquinho de choro. Foi mto, mas mto chimarrão mesmo, mtas músicas gauchescas, que me lembraram de momentos no CTG, neste caso já em Dourados, bailes com a família inteira, saudades imensas de uma família que até talvez não tenha sido unida, mas um dia foi inteira. E por vezes a gente só dá valor àquilo que é inteiro qdo tudo está aos pedaços. Foram conversas looooongas com primos e tias, e o apagar de um forte receio de que minha história já não se misturava mais com a deles. E como é bom resgatar os arquivos pessoais guardados nas mentes e corações das tias, daqueles que nos observavam na nossa infância, adolescência. Você cresceu mto...melhorou mto...estou feliz de ver vc como está hj...”, coisas assim elas disseram. Até se emocionaram qdo contei da vida no seminário, mas nada parecido com o momento em q fiz a oração para jantarmos na noite de natal. Orgulho delas...alívio meu: esta foi a primeira vez q vi todos depois que entreguei meu caminho a Jesus. Parece que pra eles, nada mudou. Alívio.
Numa dessas conversas, tia Márcia me contou q eu, qdo criança, enfrentava todo mundo pra defender meu irmão batia no peito de mtos meninos com aquele narizinho empinado : “ O q q vc ta mexendo com meu irmão aí??!!!”, e soltava sopapo pra todo mundo...rsrsrsrs...vamo combinar q isso é bem a minha cara mesmo né..?
E sabe...ficou um misto de saudade e dor. Saudade de tudo que foi tão bom e vale a pena ser lembrado. Dor, pq o que foi, nunca mais será. Mas busco nas doces lembranças a satisfação de que, embora nunca mas seja, um dia, num tempo feliz, tudo foi. Nem sabíamos que éramos felizes e que era tão bom estar perto assim. O longe era tão perto. O Rio Grande do Sul, tão longe, era tão perto de Dourados, bem mais perto do que é de Sinop, do que é de Goiás. Nunca mais será. Mas foi e durante o tempo que foi, foi tão bom. Tão bom...tão bom...
Mas também cheguei à conclusão que não há bons motivos par se estar tão longe e passar tanto tempo sem aparecer. “quem puxa aos seus, não degenera”. Sempre ouvi isso e acho que só agora pude compreender, empiriacamente. Todos somos produtos de nossas famílias, o que temos de bom e de ruim. Mas ainda existe em mim e em qualquer um o direito de escolha. Posso ser como os que lutam e vence, ou como aqueles que se assentaram sobre juiz de todos, ou ainda como aqueles que esconderam a covardia sendo as vítimas da ida, de todos, das circunstâncias, e que em tudo isso encontraram bons pretextos para agirem munidos de bem pouco pudor. Escolho mais uma vez ser como os vencedores. Meu nome nunca será contado entre os fracassados. Corre sangue Busanello nas veias, o mesmo sangue daqueles que há mais de 100 anos deixaram o velho continente, os ares frios da Itália, desbravando uma terra que não se conhecia, em busca de um sonho, de uma promessa si mesmo de uma vida melhor. Que distância, que nada...que dificuldade , que nada? Barreiras??? Hã...? lutas, conflitos, desafios...??? hummm.....que graça tem a vida sem eles...?
Bem coisa de Busanello mesmo...Bem Daniela Busanello..., parecida demais com eles, mas onservando a autenticidade e a personalidade.
“Parece que ela sabe que nasceu pra brilhar...”. E sei mesmo. Nasci pra brilhar.
Passar o réveillon em São Miguel das Missões com a Tia Márcia é um marco de que a relegião não nos separou. Assisti missa do ladinho dela, não obrigada, mas com um coração tão alegre e grato pore star ali com ela, segurando a sua mão. O que nos une, ainda é maior do que aquilo que nos separa. Tia, não poderia ter sido melhor, já te disse...
Assistir o espetáculo Som e Luz é mais do que me deliciar com a cultura. É saber que aquilo que emocionou o meu vovô há anos atrás, também falou alto e forte ao meu coração. Desejos idealistas, anseios de limites respeitados. “ Esta terra tem dono...” “Te dou o privilégio de beijar minha mão fidalga.” “E eu te dou o privilégio de beijar os cascos do meu cavalo”...
Sepé Tiarajú foi um ídolo pro meu avô e pra mim também,nem que por instantes.
Então, na viagem, agradeci a Deus por me presentear com aquilo que eu pedia ha tanto tempo: uma viagem de férias. E essa foi não só de férias, mas de lembranças, reencontros, significados. Raízes...sou do jeito que sou pq tenho raízes fortes de uma árvore grande, frondosa, forte, que cresce em meio a dor, tradições, risos e choros, lutas, garra, vitórias. Raízes desbravadoras de uma terra bravia, ácida, indomada, onde as circunstâncias e lutas obrigaram as mulheres da família, principalmente elas, a adiarem o direito de parar, sentar e chorar, para ir a luta, por si mesmas, ou por outros. Vínculos de amor, que não se desfazem com tempo ou distância.
E tudo continua como antes. As fotos (as preto e branco são as melhores, confesso) continuam nas caixas, compondo ricos acervos pessoais. O que eram aqueles cabelos das tias, meu Deus?! O vovô sempre com aquela cabeça descabelada...as fotos denunciam que netos se parecem, realmente, bem mais com os avós do que com os pais, e as sobrinhas bem mais com tias do que com as mães...como é que pode??? O céu do Rio Grande do Sul continua sendo o mais azul do Brasil...Céu...sol...Sul..., o mais lindo de todos, mais cheio de significado pra mim.
Céu azul, cor de GrÊmio Porto-alegrense. O céu onde eu vou morar é azul...
E ainda assim, “cada por de sol dói como uma brasa, queimando lembranças no meu coração...” A gritaria de todos os primos na piscina do Aliança ainda é uma doce canção. Muitos nos olhavam com olhos um pouco invejosos pq éramos uma família, grande, alegre( se não feliz), e muito, mas muito expressiva. Significativa.
As ruas ainda tem aquele cheiro que eu amo da flor da árvore de Canelinha. Só eu que gosto, pq quem mora lá já enjoou do perfume. As músicas cantam histórias de pessoas guerreiras, de paixões, de lutas brutas e feias. E assim, não nos entregamos pra os “homi”, pq permancemos vivos, na luta e na peleja, no peitaço. Muitos vernáculos de um dialeto tão peculiar de quem é do Sul. E assim, Mercedita, Morena Rosa, Orelhano, Castelhana, Herdeiro da Pampa Pobre, La Bella Polenta, La Verginella e até (cof..cof..) Me Peidei, fazem mto sentido. Ainda mais em festas de família, na chegada ou na despedida.
Tudo continua igual. E o meu lugar ainda está lá, garantido no coração de muitos, de todos aqueles que são importantes pra mim. Mesmo longe, mesmo depois de mto tempo, o lugar da matuchinha continua lá.
“Sentimos sua falta na festa de Bodas de Ouro da Tia Bela...”. Que bom. Mas meu coração estava lá, só o corpo que não. Por isso chorei tanto.
O cheiro de Natal, continua o mesmo. Só gosto desse cheiro quando sinto no Sul. Não é cheiro de presente, de comida, de bebida. É cheiro de riso, é cheiro de música, é cheiro de amor, de alegria. É um perfume do qual não se enjoa.
E tudo continua igual...
Os trilhos do trem ainda estão lá. Mas hoje estão enferrujados, sem uso. Mas ainda assim, contam muitas histórias. Eles nos levavam até as pontes numa caminhada com tios e primos, e gritos e risos e de vez em qdo alguém se xingava (em italiano, inclusive...), ou porque tava andando mto rápido ou mto devagar, ou pq não se tomava o cuidado que era necessário (essas eram as mães), ou pq se tirava fotos demais(isso era pra mim).
“Lá vem o treeeem....! corre! Corre!”...mentira, vinha nada...
“Quando a gente abre as asas, nunca mais...nunca mais...
Não chora, menina, não chora...
Os cardeais sempre fogem e voltam pra casa...”
As bolachas com glacê branco e com açúcar colorido continuam nos potes, fazendo vizinhança as tímidos biscoitos minhons, aqueles mesmos que eu e os primos roubávamos da dispensa da vó qdo crianças. E elas, as tias, continuam cozinhando divinamente e nos entupindo de comida.
Entupido de alegria...!
Sim, pai...também me lembrei de você. Durante o churrasco, durante as músicas, nas conversas dos tios, nas ruas e em muitos outros lugares, de muitas formas. Em algum momento, vc também nos fez dar muitas risadas, compôs o cenário de um natal feliz e de um reiveillon mto animado e nos fez feliz. Sim, pai. Eu também chorei de saudade de vc. O Rio Grande do Sul, na minha viagem de restauração pessoal me fez lembrar de vc. Não tinha estar ali e não te ver em muitos sons, gostos e cores. “Pra que todos digam qdo eu passe, ‘saiu iguazito ao pai!’” Ninguém fala de nada de ruim de vc enquanto eu estiver por perto. Não gosto que estraguem minhas lembranças. Não tenho culpa se escolhi ficar com o melhor.
Tudo continua da mesma forma, no mesmo lugar, do mesmo jeito.
O por-do-sol continua um lindo espetáculo que me desenharam um largo sorriso e que me conduziram à emoção e lágrimas. Nem todo mundo para admirar.mas eu parava todo dia. E aspirava fundo aquilo cheiro de fim de tarde, pra não me esquecer tão cedo.
Serenas maneiras...tias lindas...emoções expressivas...deliciosas similaridades. Qualquer uma poderia ser minha mãe, mas a MINHA é que é e embora seja grande meu amor e meu orgulho delas e por elas, está bom assim.
Tudo continua da mesma forma, no mesmo lugar no mapa, no mesmo lugar no Estado, na cidade, nas ruas,no coração. Mas algo mudou, inegavelmente. Eu mudei. Eu voltei mais forte, embora, confesse, não saiba mensurar exatamente o que isso pode gerar me meus dias vindouros.
Sinto que tenho bons motivos para ser o q sou, pq minha história, de personagens q me precedem foi escrita assim.
“Faziam planos e nem sabiam q eram felizes
Olhos abertos, o longe é perto
O que vale é o sonho...
Sopram ventos desgarrados
Carregados de saudade
Virão copos, virão mundos,
Mas o que foi, nunca mais será..”
Assim, as melhores músicas das Califórnias continuam tocando, me dizendo que o Sul não me deixou pq eu não deixei o Sul. E nisso tudo cabe uma paz muito grande e uma alegria serena, de serenas maneiras...
Não sei onde será o próximo natal nem o próximo réveillon, mas sei que neum deles erá tão bom quanto aqueles que já foram no Sul.
Surpreenda-me, Senhor...essa promessa é Tua.
Estes são dizeres de agradecimentos. Ternas lembranças aquecidas num coração que ainda bate esperançoso. É o meu muito obrigada ao meu Senhor Jesus, que escreveu em minha história tudo isso...
Meu muito obrigada também aos Busanellos do vovô Carlos João...pq somente quem é um deles, sabe a dor e delícia que se é ser um deles...
“...Que não falte coragem a estes homens
Contra o tempo agüentando o repuxo
E que as estranhas tendências imponham
O autentico canto gaúcho...”